PROSTITUIÇÃO: DIVERGÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS DO ANARCOFEMINISMO NA ATUALIDADE

Salve anarquistas,

Por meio dessa nota, gostaríamos de nos posicionar frente aos ataques e sugestões de boicote ao evento, que ocorrerá nesse domingo (02/12/2018), após a recusa da proposta de conversa sobre “putafeminismo”.

Queremos, a princípio, apontar para a incoerência de alguns rumores e para a ineficácia da exposição em redes sociais, uma vez que esse tipo de ação, além de não construir nenhuma via de debate, ação prática conjunta ou políticas que refletem de modo crítico sobre a luta de classes e as estruturas sociais desenvolvidas pelo capitalismo e pelo patriarcado, ainda contribui para a implosão de ações diretas que se pretendem meios de resistência, de diálogo e de fortalecimento entre mulheres, como a Feira de Mulheres Anarquistas. Ao contrário do que alguns rumores incitam, a Feira surgiu com o propósito de produção, divulgação e circulação de materiais e debates que são caros às mulheres e que, muitas vezes, são desconsiderados no interior dos debates anarquistas, como violência doméstica, lesbofobia, autocuidado e a própria discussão sobre mulheres em situação de prostituição. A Feira não surgiu como um espaço de exclusão ou de impedimento da circulação de homens ou pessoas trans, considerando a autonomia das coletivas propositoras das rodas de conversa.

Em seguida, precisamos evidenciar que a prostituição enquanto trabalho é um debate denso e que existem divergências táticas dentro das teorias e práticas libertárias. Nós, enquanto grupo e com diferentes posicionamentos sobre muitos temas, acreditamos na coexistência dos métodos e coletivos nesse único dia do ano em que nos propomos encontrar outras mulheres que estão atuando contra os sistemas de opressão criados e desenvolvidos pelos homens. No entanto, é importante ressaltar que nosso posicionamento enquanto anarquistas é de que a prostituição deve ser abolida, uma vez que caracteriza a exploração dupla do corpo das mulheres e que não pode ser considerada apenas um trabalho dentro de um sistema econômico que legitima trabalhos de acordo com uma divisão sexual. Não há como discutir os direitos das mulheres sem pontuar os motivos pelos quais a exploração existe. Para nós, o debate engloba muito mais do que a proposta de medidas reformistas sobre as mulheres em situação de prostituição, uma vez que práticas como essa, que buscam por exemplo, a luta pela implatantação da Lei 4211/2012 – Gabriela Leite*, não considera de fato a condição das mulheres pobres, negras, periféricas, idosas e analfabetas, assim como as crianças forçadas a exploração sexual, mas sim da cafetinagem.

Alguns países que fizeram da prostituiçao uma profissão regulamentada tiveram um aumento gigantesco no número de bordéis e também no tráfico sexual (os dados podem ser conferidos no link abaixo, em 10 motivos para a prostituição não ser legalizada**). A entrada nesses países de mulheres vítimas de coerção pelos cafetões se tornou apenas mais uma forma de migração para fins trabalhistas. Os donos de bordéis que foram legalizados, se tornaram locatários de quartos para as trabalhadoras, repassando as taxas de impostos cobradas a elas para o Estado, que é um outro grande beneficiado pela regulamentação e que, portanto, também confere coerência para posições abolicionistas entre algumas anarcafeministas. Além disso, a regulamentação fez com que a demanda masculina crescesse enormemente, tendo extremado suas exigências sexuais e, mais uma vez, sem a diminuição da violência contra a mulher.

Além disso, é possível citar organizações históricas conduzidas por mulheres anarquistas que contribuíram para o debate da prostituição como um dos piores métodos de exploração dos corpos como mercadoria, a exemplo de práticas das Mujeres Libres em casas de apoio para que outras mulheres pudessem gerar recursos financeiros e psicológicos para abandonar a prática da prostituição; e das reflexões feitas por Emma Goldman em “O tráfico de mulheres” ou “A palavra como arma”, que apontam para a relação entre capitalismo e prostituição. Portanto, nos posicionarmos enquanto abolicionistas é também respeitar o debate travado por anarquistas que vieram antes de nós.

Por conta desses motivos, outros debates e com outras perspectivas foram priorizados. Não excluímos essas realidades, inclusive esse foi um dos motivos pelos quais a I Feira de Mulheres Anarquistas ocorreu na região da Luz e em articulação direta e montagem do brechó com as mulheres em situação de prostituição que ali se encontram. Nossa postura segue abolicionista, acreditamos que a exposição, a perseguição e o boicote às organizações de mulheres são métodos seculares de implosão do que se pretende contra o patriarcado e justamente por isso, enquanto pessoas que defendem a prática política cotidiana como princípio, fora das redes sociais e junto aos movimentos populares, avaliamos que esse debate deve ocorrer, já que a demanda existe.

Gostaríamos de propor uma roda de conversa final com o tema PROSTITUIÇÃO: DIVERGÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS DO ANARCOFEMINISMO NA ATUALIDADE, das 19h ás 21h, com todas as coletivas e indivíduas juntas, inclusive as propositoras da roda sobre “putafeminismo”, para apresentarmos nossos pontos de vista e ouvirmos outros, com o objetivo de construir movimentos coexistentes. Pensamos em realizar uma conversa no formato de exposição de pontos de vista de cada coletiva ou indivídua que desejar apresentar seus argumentos, sendo dez minutos para a fala de coletivas e cinco minutos para a fala de indivíduas, e em seguida, abrir para tirar dúvidas de todas as presentes.

Esperamos realizar um debate saudável,
Abraços pra quem luta!

Feira de Mulheres Anarquistas

___

*para entender a lei: Regulamentação da prostituição confronta prostitutas e feministas radicais – https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/28/politica/1469735633_689399.html

**10 motivos para a prostituição não ser legalizada – https://materialabolicionista.files.wordpress.com/2013/10/10-motivos-para-prostituic3a7c3a3o-nc3a3o-ser-legalizada.pdf

Textos de referência sobre ABOLIÇÃO DA PROSTITUIÇÃO:

1. A legistação do modelo nórdico é a única forma de acabar com o tráfico sexual – https://antiprostituicao.wordpress.com/2018/10/09/a-legislacao-do-modelo-nordico-e-a-unica-forma-de-acabar-com-o-trafico-sexual/
2. O modelo germânico está produzindo o inferno na Terra – regulamentar a prostituição nunca será uma solução – https://medium.com/qg-feminista/o-modelo-germ%C3%A2nico-est%C3%A1-produzindo-o-inferno-na-terra-ca5967db655e
3. O que há de errado com a prostituição? (O contrato sexual, Carole Paterman) – https://materialabolicionista.files.wordpress.com/2014/05/carole-pateman-o-que-hc3a1-de-errado-com-a-prostituic3a7c3a3o-contrato-sexual.pdf
4. Nosso corpo nos pertence? (Sempreviva Organização Feminista) – https://www.youtube.com/watch?v=UvS4hwSa8So
5. Comitê pela Abolição da Prostituição – https://comiteabolicaoprostituicao.wordpress.com/2014/03/08/neste-8-de-marco-queremos-o-fim-da-exploracao-sexual-das-mulheres/
6. Banalizar a naturalizar a prostituição: violência social e histórica – https://materialabolicionista.wordpress.com/2014/05/09/banalizar-e-naturalizar-a-prostituicao-violencia-social-e-historica/
7. Prostituição: Não, não é um trabalho, não é uma profissão – https://materialabolicionista.wordpress.com/2014/11/19/prostituicao-nao-nao-e-um-trabalho-nao-e-uma-profissao/

II Feira de Mulheres Anarquistas

Esse ano realizaremos a segunda edição da Feira de Mulheres Anarquistas, inspiradas pelas lutas das anarcofeministas que vieram antes de nós, fortalecendo aquelas que agora lutam conosco, e abrindo o espaço com o tema: NEM ESTADO, NEM PATRÃO, NEM MARIDO!
Nós, mulheres anarquistas, continuamente buscamos formas de desobedecer esse sistema desde dentro dele mesmo e que, de tempos em tempos, retira nossos “direitos” e faz de nossas lutas, que nos levaram tantos anos, entrarem em constante desvalorização e retrocesso.
Decidimos então trazer o questionamento desses três pilares patriarcais (Estado, patrão e marido) para juntas conversarmos sobre como temos desobedecido, nos organizado e produzido formas mais sãs de sobreviver coletivamente.

Abaixo, o formulário de inscrição para rodas de conversa, atividades infantis, apresentações artísticas e barraquinhas de materiais. A partir do número de inscrições informaremos as datas de confirmação:
https://fdma.tellform.com/#!/forms/5bdcc9160ec65c75274cf93c

Cronograma:
Inscrições: 09 de novembro a 18 de novembro
II Feira Anarquista de Mulheres: 02 de dezembro

Acordos mínimos para II Feira de Mulheres Anarquistas!!

Acordos mínimos para II Feira de Mulheres Anarquistas

Após a grande demanda da I Feira e um balanço interno, achamos importante ressaltar alguns pontos:

– é legal que as atividades e vendas sejam realizadas por mulheres libertárias próximas ao anarquismo, já que a Feira tem a pretensão de fomentar essa orientação e prática política;

– indivíduas podem expôr, mas iremos priorizar coletivas, já que nos interessa a divulgação e circulação de materiais produzidos por mulheres organizadas e que o auxílio financeiro sirva para as coletivas continuarem caminhando, não apenas para lucro pessoal baseado no empreendedorismo feminino;

– se o coletivo for misto, gostaríamos de convidar apenas mulheres para realizar as atividades e vender materiais. Homens podem frequentar a Feira.

– A Feira é aberta para todas as pessoas mas as propositoras das rodas de conversa têm autonomia para restringir a presença do público de acordo com suas próprias visões de segurança e bem estar — é importante que nos comuniquem no ato da inscrição, para que possamos divulgar previamente na programação e evitar possíveis conflitos.

– podemos vender comidas, contanto que sejam veganas e tenham preço acessível.

– a organização da Feira é totalmente autônoma e não temos recursos suficientes para bancar todos os gastos do evento. Se puder, contribua trazendo papel higiênico, água e comida para compartilhar. Se não puder, nos ajude divulgando essa informação.

– Pedimos para todas as expositoras a contribuição sugerida entre $5 e $10 reais. A não contribuição não será de forma alguma um impedimento para a participação na Feira. Se a indivídua/coletiva puder contribuir com qualquer outro valor agradecemos muito!

– pedimos, se possível, a doação de materiais impressos para a organização da Feira, pois também temos como proposta a construção de uma biblioteca autônoma e itinerante da produção de mulheres anarquistas.

Oficina de adesivo e estêncil: nem Estado, nem patrão, nem marido

Salve compas,

Começando os preparativos para a II Feira de Mulheres Anarquistas em São Paulo, decidimos realizar um encontro aberto.

Esse encontro tem como objetivo que a gente partilhe ideias para a construção da Feira e produza nosso próprio material para trocar, criar e gerar caixa interno para as despesas do dia do evento.

Faremos oficinas de adesivo e estênci. Quem quiser, cola com umas artes pra Feira e adesiva com a gente. Quem puder contribuir levando o que tiver, segue lista de materiais necessários:

– sulfite e folhas coloridas
– chapa de raio x
– estiletes
– lápis e canetas
– tesouras
– fitas adesivas
– tinta spray

(A)

O encontro vai ocorrer dia 23/09/2018, a partir das 14h no Centro Cultural de São Paulo, estação Vergueiro.

Se tiver dúvida, entra no evento ou escreve pra gente.

Evento: https://www.facebook.com/events/344310839444237/
Email: fdma@riseup.net

Programação I FDMA em São Paulo

SAIU A PROGRAMAÇÃO!

10h. Limpeza e organização do espaço

11h. [oficina] Tesoura Autodefesa Anarkafeminista
11h. [oficina] Gravidez não desejada

12h. [roda] A lei está contra as mulheres: entendendo a alienação parental – Liga de Defesa das Mulheres
12h. [roda] Luta anti-carcerária, prisões em $ão Paulo e situação das mulheres

13h. [roda] Anarquistas organizacionistas e experiências libertárias no Brasil e no mundo – Roxo e Negro Publicações

14h. [roda] Construção de coletividade entre mulheres anarquistas – Feira de Mulheres Anarquistas e Brejo das Flores

15h. [fala e banda] Fala da Okupa Mauá e Banda Medusa Saravá

16h. [roda] O protagonismo das mulheres na revolução curda e o confederalismo democrático – Comitê Solidariedade Curda do RJ

17h. [roda] Branquitude, anti-racismo e auto-crítica nos movimentos de mulheres anarquistas – Feira de Mulheres Anarquistas
17h. [roda] Cibersegurança e antivigilância

18h. [oficina] Filosofia da tecnociência anarcofeminista
18h. [cine] Eu sou a Próxima – Coletiva Luana Barbosa

19h. [banda] Cortabrisa

20h. Limpeza e organização do espaço

Rodas e oficinas apenas para mulheres. Feira aberta para geral.

Mudança de data

Salve compas!

Por meio dessa nota, queremos informar que a data da I Feira de Mulheres Anarquistas foi alterada para o dia 10/12/2017 (DOMINGO) por conta de um imprevisto na programação da Ocupa Mauá.

Pedimos desculpas pela alteração, mas por conta do contexto, do fortalecimento na luta pelo direito a moradia, ocupações culturais autônomas e pela própria região de fácil acesso para quem vem de outras regiões da cidade, achamos melhor alterar a data e não local.

Vamos entrar em contato com as propositoras para reiterar a informação. Se puderem repassar para outras mulheres próximas, agradecemos também!

Hospedagem solidária

Tá chegando, tá chegando!

A procura pela I Feira de Mulheres Anarquistas tá loca e estamos amando participar disso, mas temos uma questão: hospedagem para as manas que estão vindo de longe.

Se você precisa de lugar para ficar, manda um email com as seguintes informações:
1. nome
2. quantidade de pessoas que precisam de hospedagem
3. data de chegada e data de partida
4. irá trazer materiais ou propor roda de conversa?
5. faz parte de alguma coletiva?
6. se importa de permanecer em um local misto?

Se você pode oferecer hospedagem solidária, manda email pra gente também:
1. nome
2. quantidade de pessoas que consegue hospedar
3. região da hospedagem
4. irá levar materiais ou propor roda de conversa?
5. faz parte de alguma coletiva?
6. o local de hospedagem é misto ou exclusivo?

Aos poucos vamos entrando em contato com todas de acordo com a necessidade e disponibilidade dos locais.
contato: fdma@riseup.net

Beijas! (A)

ATENÇÃO COMPAS QUE IRÃO PARTICIPAR DA PRMEIRA FEIRA DE MULHERES ANARQUISTAS EM SÃO PAULO NO DIA 09/12/2017 NA OCUPA MAUÁ! :)

Gostaríamos de realizar dois informes breves:

1. Doações para a ocupação
O prédio está ocupado desde 25 de março de 2007 e abriga mais de 237 famílias, totalizando cerca de 1000 pessoas com diferentes trajetórias, memórias e circunstâncias, mas com perspectivas e necessidades comuns. Pensando em como firmar a relação de parceria e apoio mútuo entre a Feira de Mulheres Anarquistas e o espaço, minando as possíveis relações e uso baseadas no lucro e na exploração presentes na lógica capitalista, segue aqui uma lista de doações sugeridas para contribuirmos com o rolê.
– livros
– brinquedos
– roupas
– alimentos não perecíveis
É importante lembrar que quem não tiver condições de ajudar, poderá participar tranquilamente. Mais importante ainda lembrar que doar algo não é caridade, é apoio e auxílio para a redistribuição desigual que acontece nos sistemas de miséria, portanto levem coisas em bom estado.

2. Não presença de agressores
Como bem sabemos, existem muitos e muitas agressoras circulando livremente pelos espaços e eventos autônomos e libertários. Enquanto organização não temos interesse em reproduzir esse ciclo de violência e constrangimento, então optamos por barrar a entrada de pessoas denunciadas e que representam, de alguma forma, ameaças para a segurança física de emocional de algumas mulheres. Portanto, caso você tenha alguma denúncia política sobre alguém, nos encaminhe um email (fdma@riseup.net) com o nome e foto da pessoa. A denúncia permanece anônima, mas iremos construir uma lista interna para evitar qualquer presença que não esteja de acordo com os nossos princípios.