Nenhuma escolha é neutra ou inofensiva, práticas de silêncio e de silenciamento podem ser, e com muita frequência são mesmo, cúmplice de quem pertence a um seleto grupo de pessoas privilegiadas e que podem dar-se ao luxo de não refletir sobre questões complexas e que são muito caras para quem ocupa os lugares de opressão numa sociedade capitalista, heteronormativa, misógina e racista.
A partir da análise coletiva e histórica de muitos grupos compostos por mulheres de que nenhuma organização está isenta de reproduzir ou coadunar com agressões contra nós, acreditamos que chegou o momento de nos organizar por nós mesmas e deixar de ter como parâmetro o que é imaginado, elaborado e composto por homens, com métodos pensados e desenvolvidos por homens.
Inclusive pq estamos bastante cansadas de não encontrar circulação adequada de materiais sobre apontamentos e realidades que dizem respeito a qualquer pessoa que se identifique com uma política libertária, mas que constantemente são relegados aos assuntos de mulheres, tais como violência doméstica (praticada por homens), descriminalização do aborto e suas consequências (com a participação de homens), heterossexualidade compulsória (que beneficia a classe dos homens), métodos de segurança para mulheres vítimas de diversos tipos de agressões psicológicas (praticadas por homens), entre tantos outros temas que não constam na agenda anarquista enquanto pauta essencial para a constituição de uma sociedade igualitária, baseada na liberdade e no apoio mútuo. Estamos cansadas também de encontrar nossos agressores denunciados ano após ano circulando tranquilamente enquanto somos obrigadas a nos retirar seja por trauma, por falta de apoio, cansaço ou constantes assédios morais daqueles que defendem seus parceiros agressores até o fim.
Portanto, é nessa perspectiva de endurecer nossos corações contra o patriarcado, aprender a matar aquilo que não desejamos colaborar e com a convicção de que fortalecer a nós mesmas entre as nossas é a melhor solução para inúmeras questões que sequer são abordadas em espaços mistos, organizamos a I Feira de Mulheres Anarquistas de São Paulo.
Temos como princípios básicos o apoio mútuo e solidariedade política entre mulheres, a maior diminuição possível da existência de hierarquias, ação direta e auto organização como práticas autogestionárias, anti patriarcalismo e anti racismo.
Todas as mulheres que quiserem construir conosco da forma como puderem, serão bem vindas. Basta entrar em contato pela página, pelo site ou pelo email. Força para todas nós e seguimos na resistência!
email: fdma@riseup.net
site: www.fdma.noblogs.org
facebook: Feira de Mulheres Anarquistas